Em meados do século passado, o Brasil ocupava a posição de país importador de alimentos; a dificuldade de produção ocasionada pela falta de tecnologia e informação no campo refletia em uma dificuldade na alimentação de toda a população nacional. Pouco mais de meio século depois, o país é atualmente um dos principais produtores e exportadores de commodities agrícolas, cenário que a cada ano se consolida em recordes de produção nas mais diversas culturas. Na safra 2022/2023, podemos observar o crescimento da produção de soja em 24% e milho em 10% em relação à safra anterior, cenário esse que pode ser observado de forma similar ou ainda mais expressiva em outras culturas. Diante desse panorama, surgem questionamentos: a que se devem essas grandes produções e isso de fato tem sido vantajoso para o agricultor?
O acesso às técnicas e tecnologias no campo mudou radicalmente dos primórdios da agricultura brasileira até então. Em 1970, a frota nacional de tratores agrícolas não ultrapassava as 200 mil unidades. Pouco mais de 50 anos depois, esse contingente ultrapassa a marca de 1,5 milhões de máquinas. Práticas que antes eram consideradas essenciais, como os métodos tradicionais de preparo do solo, estão gradativamente cedendo lugar a abordagens de agricultura regenerativa, como o plantio direto, o manejo intensivo de pragas e a agricultura de precisão. Nomes notáveis como Alysson Paolinelli e Alfredo Sheid Lopes contribuíram para tornar áreas antes inóspitas, como o cerrado, produtivas, e institutos como o IAC, a Embrapa e as universidades direcionaram os produtores para práticas sustentáveis e produtivas.
Todos esses fatores e outros mais foram determinantes para auxiliar o agricultor brasileiro a fazer o que sabe de melhor: produzir alimentos e fornecê-los para bilhões de pessoas. No entanto, ao analisarmos o cenário da última safra nacional (safra 2022/2023), podemos observar a baixa rentabilidade e insatisfação de muitos produtores em relação à venda de suas produções. Em uma perspectiva otimista de altas de preços, diversos produtores de culturas como soja e milho seguraram a venda de sua produção. Com a grande oferta da safra, observamos uma queda nos preços de mercado de diversas commodities. Como resultado, esses produtores não obtiveram o lucro esperado e até mesmo tiveram prejuízo em sua produção.
Todos esses acontecimentos na última safra entram em contradição, como pode o produtor produzir mais e não aumentar ou até diminuir seu retorno financeiro? Cabe a isso uma possível interpretação: o agricultor brasileiro tem demonstrado a cada ano uma evolução em sua capacidade produtiva e excelência em seu trabalho no campo. Por outro lado, seu entendimento de mercado não tem acompanhado todas essas evoluções, o que torna muitas vezes o trabalho do agricultor desafiador.
Muitos agricultores brasileiros ainda não realizam nenhum tipo de gestão de risco, ficando à mercê das oscilações de preços. Uma infinidade de opções existe para ser explorada pelos produtores, a fim de se protegerem no mercado de commodities, como as operações de mercado futuro, barter, mercado de opções, entre outras atividades que são grandes aliadas para quem quer ter maior estabilidade. Diante do cenário da última safra tem se tornado evidente, a necessidade de muitos agricultores repensarem sua postura em relação ao mercado, ano após ano os desafios no mercado são diferentes e a busca por auxílio técnico e profissional pode ser fundamental para a segurança financeira do produtor.
Por, Guilherme Fernandes.